
não ter filhos;
não ser uma boa jornalista;
não ver uma luz no fim do túnel;
rãs;
a morte dos meus pais;
não poder ver meu país melhor;
não ir para o céu;
não ver o mundo de uma forma mais justa;
tsunamis;
da solidão;
de espíritos;
de criar meus filhos nesse mundo de desumanos;
de não casar;
de não poder realizar todos os meus anseios;
não ter respostas para situações objetivas.
Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.
E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.
Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.
Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.
Fazia frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.
Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.
Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?
Vem, harmonia do medo,
vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas. Muletas
do homem só. Ajudai-nos,
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.
Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.
E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa cauta subida.
O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema; outras vidas.
Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.
Adeus: vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,
eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.
*e meu beijo vai para mim mesma, esperando vencer dentro de mim esses medos.
3 comentários:
Ah Nane...
Eu tenho medo de tantas coisas também...
Mas, espero que, com o tempo, eu aprenda a enfrentar cada um deles e também a vencê-los...
Férias amanhã, né?
Beijão pra tu
Muitos dos seus medos são meus tbm.Não me casar,nao ter filhos e nao ir pro céu sao um deles.Acho que oa maiores medos sao os mais cliches.
Não tem como estar nesse sistema de "sobrevivência" sem sentir medo.
As coisas do mundo são perigosas e intimidadoras. Temos que ser fortes, e nos apoiarmos uns nos outros para conseguir viver nessa selva. A vida não é fácil mesmo.
Beijo amiga.
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